terça-feira, 9 de outubro de 2012

BUSCANDO AS ORIGENS DO BLUES...


O arqueologista Charles Peadboy chegou no condado de Coahoma no estado do Mississippi em junho de 1901 para realizar uma série de escavações em áreas habitadas por tribos indígenas na vizinhança de Stohen, uma típica cidade do Delta com suas ruas planas, empoeiradas, sem árvores com várias residências alinhadas até o ínicio dos campos de colheita de algodão.
Ele estocou mantimentos, comprou algumas peruas tipo "wagon" e recrutou uma gangue de trabalhadores negros. Numa manhã ensolarada partiu com a sua equipe para fora da cidade para dar ínicio aos trabalhos de escavação. Após percorrer um trecho de 24 quilômetros ele chegou ao primeiro local escolhido para iniciar as escavações. Para a surpresa de Peadboy, logo após o inicio das escavações os trabalhadores começaram a cantar numa cadência ritimada ao longo do dia. Uma voz forte de um homem liderava o grupo, improvisando frases curtas que descreviam a paisagem ao redor da estrada, falavam de mulheres que aparentemente eles conheciam, temas Bíblicos, romances e hábitos de alguns membros do grupo. Os outros respondiam ao comando do líder com refrões - "the time ain't long" (o tempo não durará) ou "Goin' down the river" (descendo o rio), cantados num áspero unisom. 
Num sábado onde Charles Peadboy determinou uma folga de meio período logo começou a ouvir, Ike Antoine, o mais robusto líderes dos cantores, cantando "mighty long half-day  Captain" (será um longo e pesado meio período Capitão). Em outra ocasião no final do expediente de escavações, Peadboy e um compatriota branco estavam em frente às suas barracas brincando de enfincar facas no chão, começaram a ouvir uma foz forte que saia das trincheiras de escavação, "I'm so tired, I'm most dead / Sittin' Up them Playin' mumbley-peg" (eu estou tão cansado, eu estou quase morte / sentados lá em cima brincando de enfincar facas no chão).
Charles Peadboy não era um folclorista, mas ele tinha algum treinamento musical e achou que aquilo que ele estava ouvindo era suficiente para fazer anotações das letras e até mesmo tentar uma transcrição musical. As transcrições porem, não foram possíveis pois ele mesmo admitiu que a maior parte da música era praticamente impossivel de transcrever para a linguagem musical. Essa descrição foi publicada no 'Journal of American Folk-Lore" em 1903, e é considerada como o primeiro registro de música negra na região do Delta do Mississippi. Peadboy ficou meio que hipnotizado com o que chamou de "autochthonous" music (música auto-tônica ou autóctone). Ele se referia aos gritos dos trabalhadores sem acompanhamento de instrumentos musicais, como "strains of apparently genuine African music" (linhagens aparentes de autêntica música Africana). Ele ainda declarou que seria "praticamente impossível de copiar, os estranhos intervalos e ritmos que eram peculiarmente belíssimos".
Um ex-escravo idoso que morava na região de uma plantação em Stovall, certa vez foi chamado para entreter Charles Peadboy numa noite. O homem apresentou uma notável voz com "um timbre parecido com uma gaita de fole e algumas palavras indistinguíveis que ele cantarolava num ritmo irregular com intervalos irregulares também", relatou Peadboy.

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