segunda-feira, 15 de outubro de 2012

A MÚSICA NEGRA AMERICANA...


A música negra americana como era cantada e tocada na area rural do Sul dos EUA, era uma continuação profunda e tenaciosa das tradições Africanas e uma resposta criativa para a brutal e desesperadora situação dos negros. Embora alguns dos primeiros escravos que chegaram aos EUA estivessem fazendo puramente música Africana, outros aprendiam a música dançante vinda da Europa numa tentativa de conseguiu uma posição melhor na hierarquia escrava, e muitos se tornaram adeptos da música clássica Européia. Ao longo de aproximadamente três séculos entre os primeiros registros de música africana escrava na América do Norte e as primeiras gravações de música negra tradicional (folk) no Sul dos Estados Unidos, misturas de inumeráveis estilos e graus ocorreram. 
Durante o período da Guerra Civil nos EUA, quase todas as matizes concebíves de espectro musical estiveram presentes em algum grau na cultura da música popular negra. Os músicos negros, especialmente os profissionais pelo qual a música era a sua forma de vida, sempre foram pragmáticos. Músicos como SID HEMPHILL (foto acima), que poderia tocar tudo proveniente da música Africana, passando por baladas tradicionais os últimos hits de Tin Pan Alley, se requisitado. 
Bem antes da Guerra Civil, músicos negros profissionais no Norte estavam tocando música clássica e dançante. Na região rural do sul, os músicos de orquestras eram menos profissionais e tinham deveres a se cumprir nas casas das redondezas. A emancipação deu a música de plantações uma mobilidade onde era possível se tornar profissional. Ao mesmo tempo, a maioria das orquestras com músicos de plantações simplesmente desapareceriam. Então, mmilhares de músicos pegaram as estradas. A maioria dos negros do Sul, permaneceu na região, e mais tarde eles descobriram que poderiam andar a cavalo, dirigir wagons, mulas e poderiam se movimentar para outras regiões de plantações vizinhas e tocar nas esquinas ao entardecer dos sábados, quando os trabalhadores se agrupavam para socializarem. 
Esses viajantes musicais do período da Reconstrução (Pós-Guerra Civil), eram chamados de fisioterapeutas musicais, músicos e cantadores (songsters). Os fisioterapeutas e os músicos eram adeptos de instrumentos enquanto que os cantadores eram os seresteiros. Alguns deles, devem ter tocado algum tipo de 'blues', mas evidências fortemente sugerem o contrário. Se eles apresentassem um repertório no estilo blues, seriam certamente as narrativas em baladas próximas do estilo que mais tarde seria intitulado 'Blues'. Essa música era chamada de 'jump-ups', que tinham frases fortes não relacionadas e acompanhadas por um simples acorde. LeDell Johnson, um bluesma do Mississippi que se tornou pastor nascido em 1982, disse uma vez para David Evans, quando esse lhe perguntou sobre a música da geração dos seus pais, "Veja, eles estão fazendo pequenas e velhas canções 'jump-ups".
Em sua maior parte, o repertório dos cantadores (songsters) consistiam em danças caipiras, canções de palco de menestrel, espiritualismo, baladas narrativas, tudo que se relacionava e mostrava uma afinidade com a música country da época que era tocada pelos brancos.  
 Mas na época você deveria pensar duas vezes antes de dizer que a música tocada pelos negros era influenciada pela música dos brancos. No final das contas a música tocada pelos brancos na época tinha uma forte atração e semelhança com a música dos negros e seus violinos e banjos que eram tocadas nas plantações dos campos de algodão. Seria mais justo afirmar que a partir da Guerra Civil até o inicio do século XX, a música dos seresteiros e músicos negros compartilhavam traços semelhantes com a música country dos brancos, que eram 'trocados' livremente entre eles. Mas mesmo muitas músicas sendo semelhantes de brancos e negros, a performance dos negros era facilmente detectada, com a textura áspera da voz e enfâse no momento rítimico eram marcas registradas e bem distintas do lado negro.

Gradativamente os cantadores negros desenvolveram um corpo musical que divergia cada vez mais radicalmente das semelhanças inter-raciais. Eles começaram a priorizar e fazer suas próprias baladas especificamente sobre a vida dos negros, baladas como "Frankie And Albert", que provavelmente foi composta em St. Louis em 1980 quando vários negros do Sul chegaram á procura de trabalho noturno nos diques da cidade. Eram músicas que celebravam a 'maldade' do homem negro, músicas como "Looking for the Bully of the Town" e "Stackolee", que era sobre um homem tão ruim que em certas versões ele morria e ia para o inferno encontrar o Diabo. Existiam músicas sobre heróis negros, como "John Henry" (foto acima). E também existiam baladas mais regionais como "The Carrier Line", uma música gravada por SID HEMPHILL em 1942 que dissecava com impiedosa precisão as loucuras de homens brancos. A maioria das baladas estava no seu tempo e local corretas, algumas gozaram de certa resiliência como "Stack-a-Lee", que era um rhythm & blues de grande sucesso em 1950 de um pianista de Nova Orleans chamado Archibald, e como "Stagger Lee", se tornou um grande sucesso do rock and roll com a versão de LLOYD PRICE.
  "Jump-ups" como os que Charles Peadboy ouviu seus trabalhadores cantando em 1901 em Clarksdale são muito mais próximos do blues do que estas baladas descritas acima. Já eram muito populares em 1890. Em 1892, W.C. HANDY que se tornou famoso como letrista e popularizou o blues, era na realidade um mestre de shows de menestréis e bandas de metais disse em sua autobiografia que ouviu uma certa noite alguns guitarristas tocando uma música de apenas um verso e eles cantavam a noite inteira. 

O que seria essa música, um jump-up ou um blues verdadeiro ? A questão tem algum interesse acadêmico, mas no contexto da cultura da música tradicional negra é insignificante. HANDY chamou a música que ele ouviu em St. Louis de "East St. Louis Blues". Ele não deu nenhuma indicação de que as pessoas que cantavam essa música naquela época chamaram assim, mas nós sabemos que o termo "blues" veio a tona como descrição de um estilo músical por volta de 1990. Pode-se tentar ser o mais específico possível insistindo que apenas músicas com melodias blues são reconhecidas com três versos no formato AAA ou AAB são e forma o blues verdadeiro. Essas músicas pelo menos contém o formato AAB, com um linha repetida duas vezes e uma resposta, desenvolveram "East St. Louis Blues" e outras canções estilo 'jump-ups' ou chamadas as vezes de canções de apenas um verso (one-verse songs). Mas os seresteiros negros do inicio do século XX não eram particularmente discriminados pela sua terminologia, eles intitulavam vários tipos de canções com a palavra blues. Em "Hesitation Blues", que era bastante popular na primeira década do século e foi largamente gravada no inicio dos anos 20, cada verso consiste de duas linhas e um refrão, a melodia é muito influenciada por 'ragtime' (jazz) e menestréis. O lendário bluesman da região do Delta, CHARLEY PATTON gravou dezenas de blues no formato AAB, grosseiramente no formato 12-compassos, mas ele também gravou baladas no formato 8-compassos como "Elder Green Blues".
   Não se pode ainda com certeza dizer que o Blues é uma evolução dos 'jump-ups' ou 'one-verse songs'. Blues é um idioma musical que apresenta traços de numerosas fontes, incluindo 'jump-ups', gritos dos campos de algodão (field hollers, que se aproxima mais da melodia), baladas de seresteiros (do qual emprestou padrões de guitarra), música de igreja (que influenciou vários bluesman) e música percussiva derivada da Africa (que forneceu algumas idéias rítmicas). Cada artista de Blues foi influenciado poressa mistura de raízes musicais e vieram com algo distinto que os caracterizou. A única maneira de definir o Blues com uma precisão verdadeira seria levar em conta o repertório de cada artista.

**Texto, tradução e adaptação de Luis Fernando Soares de Almeida © 2012 

Fontes de pesquisa : Deep Blues de Robert Palmer
                                The History of The Blues de Francis Davis
                                Blues People de Amiri Baraka

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