quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

A GUITARRA ELÉTRICA E O DELTA DO MISSISSIPPI...



A guitarra elétrica foi introduzida aos discos de jazz e blues no final dos anos 30, mas ainda era uma novidade quando Muddy Waters comprou a sua primeira em 1944. Ele não se divertia o bastante tocando guitarra elétrica como se divertia tocando os seus velhos modelos acústicos, mas ajudou muito a difundir a sua música nos guetos, por volta de 1946 ele estava excursionando regularmente com uma pequena banda elétrica formada por; Claude Smith, um guitarrista do Delta do Arkansas, e Jimmy Rogers, que aprendeu a tocar harmônica e guitarra enquanto crescia no Delta do Mississippi perto de Greenwood. Pouco tempo depois, Baby Face Leroy, que era de Mobile no Alabama se juntou a banda como guitarrista e baterista. Depois dele ainda veio Little Walter Jacobs, que era da Louisiana mas desenvolveu a sua maturidade musical na cidade de Helena, também na região do Delta do Arkansas. Em 1949 Smith saiu da banda e Muddy, com Walter na gaita, Leroy na bateria e Jimmy na segunda guitarra sairam das turnês pelas pequenas tavernas da região para começar a gravar por uma companhia chamada 'Aristocrat', que bem cedo mudou o seu nome para CHESS.
  Muddy e seus associados não poderiam ser aclamados por inventarem o blues elétrico, mas eles foram a primeira banda elétrica importante, a primeira que usou amplificadores para fazer a música parecer mais feroz, crua, mais física em vez de apenas fazer música um pouquinho mais alta. O mais importante é que eles foram os líderes na transformação do Delta Blues que era uma música tradicional regional para uma verdadeira música popular que inicialmente desenvolveu uma enorme quantidade de seguidores negros, depois seguidores brancos pela Europa, e finalmente seguidores espalhados pelo mundo inteiro. Depois que Muddy Waters se estabeleceu em Chicago, o Delta Blues era uma música apenas para os negros da região do Delta. A cidade de Chicago nos anos 20, 30 e 40 tinha as suas estrelas do Blues e eles vinham de todos os lugares -- TAMPA RED, GEORGIA TOM e BIG MACEO vieram do Alabama, JOHN LEE 'SONNY BOY' WILLIAMSON veio do Tennessee. No inicio dos anos 50 o Blues de Chicago foi amplificado pelo blues do Delta do Mississippi, com Muddy Waters liderando o caminho e ditando o ritmo. E ainda havia uma considerável atividade no cenário do Blues no Delta, com programas de rádio com gravações ao vivo, e a sua música de vanguarda não seria mais encontrada lá. Os mais famosos e populares discos de Blues do Delta seriam feitos em Chicago, e os músicos que viviam no Delta começaram a copiar esses discos, especialmente os discos de MUDDY WATERS, LITTLE WALTER e JIMMY ROGERS lançados pela CHESS.
  A importância do Blues do Delta é medida pelo impacto que teve no mundo inteiro. Seguindo essa linha de raciocínio, a música do Delta é importante porque alguns dos músicos mais populares do mundo, aprenderam a cantar e a tocar imitando e até hoje reverenciando as obras gravadas dos mestres do Blues do Delta. Gente de peso como, ERIC CLAPTON, THE ROLLING STONES e BOB DYLAN, só para citar alguns. É importante porque guitarristas de rock em todos os lugares do mundo tocam ou tocaram alguma vez com um bocal de vidro de uma garrafa ou um pedaço de cano em seus dedos no estilo 'slider' (deslizando), reconhecidamente creditados ou não aos músicos do Delta como MUDDY WATERS e ELMORE JAMES
  É importante porque os guitarristas do Delta foram os primeiros a explorar deliberadamente distorções em suas gravações. É importante porque quase que a totalidade dos músicos que tocam gaita, seja na América ou Inglaterra, França ou Escandinávia, em alguma fase de sua carreira imitou ou pelo menos tentou imitar o som que LITTLE WALTER produzia. É importante porque o padrão de baixo, os riffs de guitarras e os boogies de pianos criados no Delta passaram através de um amplo espectro da música popular do Ocidente, desde o hard rock até cantores e compositores da música pop, indo para a disco, jazz e trlhas sonoras. 
  É importante porque músicos do Delta como MUDDY WATERS e ROBERT JOHNSON se tornaram ícones, figuras lendárias que parecem ter articulado as mais altas aspirações da América e os seus segredos mais sombrios com uma rapidez incomparável por algo criado há 30 ou 40 anos atrás. 
  Todos estes são bons motivos para ouvir e aprender sobre o Delta Blues, mas eles não são os únicos e nem os melhores. A música nunca precisou de intérpretes ou divulgadores, sempre foi forte o suficiente pelo fato de simplesmente existir. Sua história, desde os primórdios sombrios até a sua migração para Chicago e a eventual popularidade mundial de Muddy Waters e alguns jovens bluesmen nascidos no Delta do Mississippi, é um épico tão nobre e tão essencialmente americano como qualquer outro em nossa história. É a história de um pequeno e privado grupo de pessoas que criaram, contra todas as probabilidades enormes, algo que tem enriquecido a todos nós até os dias atuais.
    Quais seriam as chances de sucesso à se considerar. O Blues na região do Delta, pode ou não ter sido o primeiro lugar que existiu o Blues, mas é certamente o primeiro Blues que conhecemos muito sobre, foi criada não apenas por pessoas negras, mas os mais pobres e marginais negros. A maioria desses homens e mulheres que cantavam e tocavam não  podiam ler e nem escrever. Eles possuíam quase nada e viviam virtualmente numa eterna servidão. Eles não eram considerados respeitáveis ??o suficiente para trabalharem como funcionários em casa de brancos ou para manter posições de responsabilidade dentro de suas próprias comunidades. O Blues foi tão vergonhoso que até mesmo seus mais leais e devotos seguidores freqüentemente e prudentemente ignoravam isso. Se você perguntasse a um pastor negro, professora, pequeno proprietário ou devoto fiel, que tipo de pessoas tocavam e escutavam o Blues, eles lhes diriam pejorativamente, os "negros do milharal" (cornfield niggers).
  Por outro lado, os cantores de blues não tem que respeitar as convenções sociais ou homilias da igreja desgastada, eles eram livres para viver do jeito que queria e para dizer a verdade como a vi. Eles poderiam encontrar um público pagante no menor vilarejo, em uma serraria rural ou café, ou em qualquer esquina do centro, eles não têm de dedicar suas vidas ao trabalho agrícola exaustivo ou ficar em um lugar por muito tempo. Eles eram a vida do partido, o brinde da volta da cidade, eles tem tanto para beber e tantas mulheres como eles poderiam lidar, e às vezes mais. Eles sabiam que o pior dos tempos, mas, durante o melhor dos tempos que ostentava vistosas roupas, jóias, um maço de notas verdes, até mesmo um automoblie fantasia. Para as pessoas que dançavam e bebiam e cortejada e fez amor com sua música, eles eram estrelas.

Fonte de pesquisa >> Deep Blues de Robert Palmer
                                                The History of The Blues de Francis Davis
**Tradução, adaptação de Luis Fernando S Almeida

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